quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Um fenómeno chamado «FM»

Está a comandar a sua equipa, desmotivada, desgarrada, numa noite chuvosa de domingo. Perde com o seu maior rival, e as coisas poderiam ser distintas se os jogadores tivessem correspondido às suas indicações durante o intervalo, se a academia de jovens jogadores tivesse outra qualidade, ou se a administração tivesse cumprido com a palavra de trazer um ou dois novos valores à equipa. Depois de mais uma derrota, as coisas estão feias, e faltam apenas 3 partidas para virar aquilo que poderá ser a pior temporada dos últimos 20 anos.
Terminada a conferência de imprensa, recebe uma mensagem do presidente a convocar uma reunião para a manhã seguinte. Neste momento, só haverá algo a fazer… desligar o computador portátil, vestir o pijama e dormir uma boa noite de sono. Amanhã é um dia de trabalho. Certo? Nem por isso! Para os verdadeiros fãs, o Football Manager é bem mais do que um mero jogo de computador. É uma paixão, é um modo de vida, um fenómeno que nasceu da mente de 2 “geeks” da era dos computadores, e que actualmente é um negócio de milhões. O FM foi de tal forma absorvido pela sociedade actual, que foram já registados pelo menos 50 casos de divórcio em que a justificação foi, única e simplesmente, a dependência a este jogo de computador.
Tudo se iniciou quando 2 irmãos, amantes da informática e sócios ferrenhos do Everton, decidiram escrever 500 linhas de código e iniciar o sonho de poder sentir aquilo que o treinador da sua equipa sentia no banco de suplentes. Corria o ano de 1985, e estes jovens informáticos estariam longe de imaginar que, anos mais tarde (em 1992), o Championship Manager iria iniciar uma expansão esmagadora, além fronteiras, por intermédio da companhia Eidos. Mas engane-se o leitor que pensa que isto é apenas uma história de milhões. As primeiras expectativas foram defraudadas, e as revistas mais conceituadas escreveram comentários extremamente negativos ao jogo. Foram necessários alguns anos, e muitas mais horas de computação, para que o CM atingisse o ponto de caramelo, isto já no ano de 2000. Daqui para a frente, o crescimento foi literalmente imparável. O que os adeptos do jogo não esperariam contudo era a separação que pouco depois surgiu, entre a Eidos e os 2 programadores, que seguiram então caminhos opostos em 2003. A Eidos ficava assim com os direitos do nome, enquanto Paul e Olivier levavam consigo a fatia mais importante de código do jogo.
Segunda-parte: Football Manager. Foi este o nome seleccionado pela marca SEGA, isto já depois de garantida a “contratação” dos dois génios Collyer. Segundo estes, a relação com a Eidos havia sido como de “pai para filho”, enquanto que com a SEGA era um verdadeiro casamento. Os 2 programadores iniciaram o trabalho com a certeza de que teriam 100% da liberdade para desenvolver as suas ideias, e rapidamente levaram o FM para as bocas do mundo. O Championship Manager, por esta altura, tentava tirar proveito daquilo que os dois irmãos lhe haviam deixado, mas rapidamente foi deixado para trás. Em Julho de 2008, o FM contabilizava 1 milhão de cópias vendidas na Europa e EUA. Em segundo posto, Sims 2 com… 540 mil cópias.
Então, afinal de contas, o que poderão os amantes do jogo esperar da edição 2009? A transmissão da partida em 3D será definitivamente a grande evolução do novo FM, assim como a existência de uma conferência de imprensa pós-jogo. Contudo, são garantidas mais de 80 novas funcionalidades! A base de dados, essa continua a mais actualizada do mundo. Mais de 900 pessoas, espalhadas pelo globo, trabalham para reunir a mais detalhada e precisa informação sobre os jogadores dos vários campeonatos, dos vários escalões. Segundo Jacobson, outra das mentes brilhantes do projecto, o Sevilha conta com a segunda maior equipa de prospecção do mundo, com certa de 700 elementos. Famosa por nos últimos anos ter sido utilizada por equipas profissionais na descoberta de novos talentos, com nomes como Lionel Messi, Wayne Rooney, entre outros (nunca se sabendo se de facto os clubes utilizaram a informação do jogo, ou se na realidade descobriram os talentos por outros meios), o CM está para ficar, e poderá significar um novo rumo na informatização do futebol.
No que toca aos utilizadores do jogo, estes vão desde o simples teenager até ao médico ou advogado. Até estrelas da televisão já admitiram ser viciadas no jogo, como o apresentador de televisão inglês Jason Manford. Segundo consta, terá recebido, enquanto jogava, uma proposta para treinar o Plymouth. A decisão era difícil, e quando estava na cama, pensativo, a namorada perguntou-lhe o que o apoquentava. A resposta foi rápida: estava preocupado com um novo projecto no emprego. O FM torna-se uma (demasiadamente) importante fatia da vida de certas pessoas, um fenómeno que psicólogos estão actualmente a estudar. Em adição, o FM agrava esta problemática, já que o jogo é cada vez mais um jogo para perfeccionistas. Nada é deixado ao acaso, e a mais pequena decisão poderá levantar enorme turbulência no seio da equipa. Será que o ser humano caminha para uma segunda vida - uma vida virtual?
by Rui Zamith

Nicolas Anelka - O Senhor 120 Milhões

Um “flop” que é um Banco. Não existe um Banco que tenha gerado mais dinheiro do que Anelka. Um verdadeiro enigma dentro e fora do campo. Foi elogiado quase até ao tutano mas nunca conseguiu assumir o controlo psicológico como jogador. Quando saiu aos 17 anos do PSG, poucos imaginariam que viria a ser um ícone no que toca às suas transferências entre clubes. Desde que saiu do Arsenal, onde sob as ordens de Wenger se revelara um fabuloso avançado-centro, a sua carreira tem sido uma sucessão de equívocos e fracassos.
Fã de Maradona, Romário, Weah e Van Basten, Nicolas Anelka já gerou cerca de 120 milhões de euros, somando todas as transferências em que esteve envolvido. Depois de uma formação feita em Trappes e no excelente centro de estágio de Clairefontaine, Anelka abandonou o sonho de ser tenista e abraçou, já com a camisola do PSG, o futebol, para gáudio dos empresários que estiveram envolvidos nas suas transferências. Um ano depois, Anelka foi detectado pelo mestre de cantera Arsène Wenger, que o levou para o Arsenal por uns “míseros” 660 mil euros. Bem acompanhado e com uma mão e dedo disciplinadores, no primeiro ano adaptou-se à nova realidade para no segundo destronar nada mais nada menos que Ian Wright da titularidade e se assumir como peça basilar na conquista da Liga e Taça de Inglaterra e ainda se estrear com a camisola gaulesa. Quando tinha tudo para singrar, assumiu ser “infeliz” e que não socializava como antes e pediu para regressar ao seu país. Já no seu reduto, puxa dos galões e o seu futebol fascina os tubarões do futebol europeu. Desta feita é o Real Madrid, que paga ao Arsenal 32,5 milhões de euros pelo seu passe. Em Madrid, ficava em casa a jogar ‘playstation’, ignorado pelo balneário, choca com as estrelas Raúl e Morientes, perde espaço no balneário e entre os adeptos. Não deslumbra em Madrid, mas mesmo assim vence a Liga dos Campeões, tendo sido fulcral nas meias-finais diante do Bayern de Munique.
Corria o ano de 2000 e finalmente Anelka concretizava o desejo de regressar ao “ninho”, devido a uma estratégia de marketing do PSG - que despendeu 28,4 milhões pelo seu filho pródigo. Porém nem tudo corre como o esperado, contudo o gaulês (mais uma vez) vê a luz ao fundo do túnel quando Gerard Houllier, que havia sido seu treinador nos sub-18 da Selecção, o convida a ingressar no Liverpool, por empréstimo. A temporada corre-lhe bem com golos e jogos de encher o olho mas aparentemente o seu feitio enfant terrible fala mais alto e no final da mesma, Houllier não acciona a opção de compra e Anelka fica novamente sem rumo… Por pouco tempo no entanto, já que empresários bem atentos rapidamente o colocaram no Manchester City por 18,2 milhões. Com Kevin Keegan, a sua carreira viveu uma verdadeira encruzilhada. Era o 3º clube que representava na Liga Inglesa, e contra todas as más expectativas dos críticos, faz duas temporadas razoáveis, contudo, o seu passe é forçado a ser vendido ao Fenerbahçe, por 11,2 milhões, devido a dificuldades financeiras nos citizens. É recebido como uma estrela na Turquia. Nesta altura, converte-se ao islamismo, adoptando o nome de Bilal. Quem não esteve pelos ajustes é o brasileiro Márcio Nobre que lhe dá poucas possibilidades de mostrar o porquê da sua contratação. Ainda assim, sagra-se campeão turco. Entretanto, dá nas vistas com as cores da selecção, mas nem a impossibilidade de Cissé jogar no Mundial 2006 lhe abriu um lugar nos convocados.
O seu estilo possante, 1,85m e 75 kg, de passada larga, muito forte a encarar o defesa contrário e nos remates em corrida de primeira, parece ser o ideal para o futebol inglês, que, pelo seu ritmo intenso e activo o atira para uma sinergia inevitável. No futebol latino, perdeu sempre fulgor devido ao ritmo mais pausado, onde parecia muito desligado do jogo. É um enigma que assenta, essencialmente, na motivação para fazer magia com as suas chuteiras. Regressou a Inglaterra para jogar no Bolton por 19 milhões e agora está no Chelsea que desembolsou nada mais que 22 milhões de euros em 2008. Como resultado, tornou-se no jogador que mais verbas movimentou em torno das suas contratações na História do Futebol com o record a rondar os 120 milhões de euros.
Um flop verificado no Real Madrid, no regresso ao PSG, Liverpool, onde todos os técnicos, Del Bosque, Fernandez e Houlier, nunca reconheceram qualidade ao ponta de lança que em 99 - ano de explosão em Highbury Park - chegou a ser apontado como o futuro nº9 da selecção francesa para os próximos dez anos. Recentemente e com 29 anos afirmou ao lado de Scolari: “Quero terminar a carreira neste clube”, disse. Alguém acredita?

by: Gustavo Devesas