sábado, 27 de dezembro de 2008

Memo Ochoa: Mexicano Voador

Correm tempos em que a magia e o espectáculo passam quase inteiramente pelos pés dos atacantes e médios mais criativos. No entanto, e segundo reza a história do futebol, sempre houve figuras que nos marcaram pelas qualidades comprovadas em terrenos mais discretos. E discreto não significa menos importante, de todo, como o comprova Guillermo Ochoa, a mais recente coqueluche do futebol Mexicano.
Preud’homme, Kahn, Zoff, Buffon, Higuita, Goycoechea. Todos eles, em seu tempo, marcaram uma geração naquela que é uma das mais mágicas e adoradas posições num campo de futebol: a de guarda-redes. Independentemente da espectacularidade empregue a cada lance, o tempo veio-nos revelar como a arte de um bom guarda-redes consiste primordialmente na capacidade de manter a tranquilidade, a serenidade. E estes predicados permitem-nos ainda hoje distinguir o bom do sublime. Ochoa é precisamente isso: envolto no sangue-quente latino-americano, o guardião Mexicano de 22 anos mantém uma presença notável, e ultrapassa limites imaginários na defesa das suas redes.
Nascido à 22 anos em Guadalajara, Jalisco, Memo era ainda um rebento quando foi lançado às feras no Club America. Tinha apenas 17 anos, mas Leo Beenhakker não hesitou em escalá-lo para titular, isto perante a lesão do vetereno Adolfo Rios. Para imprensa e adeptos foi amor à primeira vista, e apesar da fogaz passagem de Ruggeri pelo comando da equipa - que relegou Ochoa para suplente - o guardião Mexicano rapidamente ganhou a sua posição na equipa, sendo no ano seguinte campeão do seu país. O percurso que vem desbravando encontra um paralelo evidente na Europa, no ‘merenge’ Iker Casillas: um enorme carácter, um forte espírito de equipa, e a ascensão natural a ícone da equipa.
Indiscutível no seu clube de sempre (com cerca de 150 partidas efectuadas até ao momento) e titularíssimo na selecção do seu país (onde já conta com 15 jogos), é natural a ambição de um “salto” para a Europa, onde é disputado o mais competitivo futebol do planeta. Aquele que é considerado unanimemente como o melhor guardião americano da actualidade tem certamente a sua marca a deixar na Europa. As competições sul-americanas são actualmente competitivas e bem disputadas, e a presença em provas como a Copa América, Taça Libertadores ou Jogos Olímpicos de Atenas fazem deste jovem jogador uma aposta segura.
Tecnicamente, Ochoa é espectacular a todos os níveis. Na baliza, tem a sobriedade de um veterano e a agilidade de um jovem. É particularmente forte no um contra um, e funciona por instinto para conseguir defesas a todos os níveis inacreditáveis. Os seus 1.86m são suficientes para as bolas mais compridas, e a sua bravura permite-lhe lutar por qualquer lance com o pensamento em vencê-lo.
Na América do Sul, Ochoa é um ícone e prova disso são os recentes anúncios publicitários para a Coca-Cola, ou o contrato conseguido com um famoso jogo de computador. No fundo, nada de anormal num mundo globalizado como o vivemos. O que é de facto de enaltecer é a maturidade deste jovem jogador, que com 22 anos continua os seus estudos na Universidade e não coloca sequer a hipótese de os interromper. A nomeação para a Bola de Ouro 2007 foi a sua primeira grande conquista; a segunda poderá estar seguramente para breve - AC Milan, Manchester Utd, entre outros, estão na fila da frente por mais um prodigioso jovem sul-americano em ascensão.
by Rui Zamith

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

os recursos para a reconstrução de Angola

Ana Catarina
Acho que um país como o nosso que acaba de sair de uma situação de guerra deve apostar na sua reconstrução, sobretudo nos investimentos estruturantes como sejam: estradas, pontes e fábricas que potenciam o crescimento de outros sectores, como o da construção civil, comércio, turismo e outros.
Apesar da grande importância que assume as obras públicas, penso que o governo angolano não tem orientado convenientemente os recursos para a reconstrução de Angola. Num país com problemas básicos por resolver, como:
• Falta de escolas públicas, hospitais, estradas intra e inter regionais;
Não me parece que o alargamento da baía de Luanda seja prioridade, acho que estamos a implementar ideias de primeiro Mundo, num país com estruturas de terceiro Mundo. Para mais, este projecto da baia vai consumir metade dos 4 biliões de USD pedidos a China por empréstimo, sem contar com o impacto ambiental, provavelmente negativo que vai trazer. Resumindo, é o continuar de uma vida de “luxo na miséria” a que estamos habituados.
Por outro lado, as obras não obedecem a orientações ambientais e a fiscalização quer ambiental quer técnica são inexistentes ou desconhecidas pelo comum mortal. E nesta grande missão/confusão a que chamamos modernização do país quem ganha mais não é a população, mas sim os grandes lobbies.
A lei 7/97 foi sem dúvida uma iniciativa bem pensada que obriga a que as empresas que não tenham residência fiscal em Angola, possam ser tributadas por rendimentos criados em território angolano. Mas esta lei tem suscitado algumas dificuldades na sua interpretação e implementação: Numa empreitada podemos ter actividades de prestação de serviço, neste caso aplicamos a taxa de 3.5% ou 5.25%? E o controlo da tributação é feito sobre as vendas ou pagamentos?
Outro problema é identificar o responsável pela adjudicação e acompanhamento das obras públicas quer na sua implementação quer na sua fiscalização. Como disseste o investimento privado (construção civil) também tem dado ar da sua graça, notamos várias construções espalhadas por Luanda. Acho que hoje todo o Luandense tem, nem que seja uma palhota, em construção. O problema é a qualidade das obras e a falta de um plano director que defina claramente onde, como e o que construir.
Mas continuo a acreditar que no futuro as coisas irão mudar. Continuo a acreditar nos jovens angolanos sedentos de mudança. Há ainda uma luz no fundo do túnel que vale a pena explorar. Vale a pena acreditar.

by Avelino Kiampuku

Os empréstimos “subprime” e a génese da crise financeira

Quando falamos em “prime”, referimo-nos à classificação credores, devedores ou taxas no mercado de crédito consideradas de alta qualidade. Empréstimos “subprime” são financiamentos concedidos a taxas reduzidas àquelas pessoas com rendimento mais baixo. Existe um quociente que permite definir os devedores como pertencentes à categoria “prime”, baseando-se em critérios de elegibilidade previamente definidos.Em oposição aos empréstimos do tipo “A” e aos “primes”, estão os empresários de menor qualidade e de maior risco, mais concretamente, são os créditos imobiliários de elevado risco onde a única garantia exigida ao devedor é o próprio imóvel. Este segmento de mercado é exclusivo aos Estados Unidos e é (era) destinado à população com rendimentos mais baixos.É o “subprime” que explica a crise que despoletou nos EUA e ameaça varrer a Europa com repercussões à escala global. Tudo começou quando a reserva federal norte americana (FED) decidiu baixar a taxa de juros para estimular a economia (como sabemos, a taxa de juro é função positiva do investimento empresarial e, por esta via, da criação de emprego) na sequência dos atentados de 11 de Setembro de 2001. Assim, enquanto as taxas de juro baixavam, o crédito expandia-se (dado o baixo nível de exigência no acesso ao crédito). Posteriormente, o FED subiu à taxa de juro directora, o que incitou o aumento dos juros imobiliários. Por sua vez, os bancos, confrontados com o preço do dinheiro mais alto, decidiram repercutir este feito sobre os seus clientes. Paralelamente, o decréscimo na procura de bens imobiliários influenciou a descida dos preços destes bens, originando uma diminuição da riqueza potencial das famílias.A combinação destes factores desembocou numa situação de incumprimento das obrigações bancárias por parte das famílias. Sendo o imóvel a única garantia do banco, os bancos começaram a sentir os efeitos da falta de liquidez e decidiram tomar medidas: executavam as garantias ficando com as casas. O problema é que são muitas as famílias a não pagarem e muitas casas a serem “executadas” pelos bancos, logo, muitas casas à venda, e poucos compradores. Pela lei da oferta e da procura, os preços baixaram.Os bancos ficaram sem fundos e com dificuldade para emprestarem dinheiro aos seus clientes, recorreram aos outros bancos, estes igualmente com dificuldade de liquidez e com enormes perdas. Isto tudo num país com enorme défice no qual se deve evitar a todo o custo que ocorra uma recessão sob pena de dificultar ainda mais a possibilidade de combater o défice por via das receitas fiscais e o risco de uma desvalorização dos títulos do tesouro americano, bem como as poupanças em dólar americano.Como o mercado é global, a crise rapidamente alastrou-se (ou se vai arrasar) para o resto do mundo, o que incita o abrandamento global. Muitos dos bancos que emprestaram dinheiro aos bancos americanos para que estes emprestassem aos seus clientes são europeus, asiáticos e até africanos. E assim nasceu a crise.
by Avelino Kiampuku