segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Do plágio à fraude científica

O jornal Expresso publicado no dia 3 de Outubro de 2009, trazia uma extensa reportagem sobre o plágio nos trabalhos universitários. O problema é sério, como se mostrou na reportagem, e tem sido agravado com as imensas possibilidades de recolha de informação na Internet e com a facilidade digital de recorte-e-cola. Há teses que incluem, sem os citar, extractos extensos reproduzidos de outras fontes e há trabalhos que são completamente copiados de documentos existentes na Internet.

Muito terá mudado com as novas tecnologias, e para melhor. Mas será confundir informação bruta com conhecimento pensar que o professor deixou de ter conhecimento para transmitir, passando a ser unicamente os alunos a buscá-lo, construí-lo e organizá-lo. Bibliotecas sempre existiram, tornaram-se de consulta mais fácil pela Internet, que é algo como uma imensa biblioteca do conhecimento humano, mas a questão fundamental não se alterou: o ensino tem de ser uma transmissão organizada de conhecimentos guiada pelo professor. Se há mais recursos, isso significa que se abriram novas possibilidades de enriquecer o ensino. Não que o professor se deva limitar a promover 'a construção do conhecimento pelo aluno' ou, como dirão os mais cínicos, a 'estimular o recorte-e-cola'.

Na reportagem do Expresso, o professor Seabra Santos, reitor da Universidade de Coimbra, colocou o dedo na ferida: "Quanto mais regulares forem as reuniões entre orientadores e orientandos, mais fácil é combater a fraude". Ou seja, quanto maior for o acompanhamento dos professores ao trabalho dos alunos, mais difícil será apresentar trabalhos que sejam cópias de textos pescados na Internet.

Infelizmente, contudo, algumas escolas, departamentos e professores não actuam da melhor maneira. Há os que deixam os alunos sozinhos a escolher os tópicos, que não indicam literatura nem dão sugestões de pesquisa. Limitam-se a ler apressadamente o trabalho final. Assim, o plágio é fácil e, mesmo quando não há fraude, é pouco provável que o trabalho seja verdadeiramente enriquecedor para o estudante.

Proliferam confusões sobre o que é um trabalho de pesquisa original. Não é uma reflexão magna sobre o passado e o futuro do universo, nem é uma nova síntese da filosofia ocidental, de Parménides a Popper. É, habitualmente, uma investigação sobre um tema minúsculo e muito especializado, com conclusões modestas e com impacto reduzido. Mas exige muito trabalho original.

by: Nuno Crato

in http://aeiou.expresso.pt/nuno-crato=s24976

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