quinta-feira, 9 de outubro de 2008

"Somehow the rap game reminds me of the crack game" Nas

No Sábado passado estava num dos muitos bairros ainda degradados da linha de Sintra, e encontrei um mano (16 anos) que há uns 3 anos atrás costumava ir a Benfica (ao Bunker), assistir às sessões de freestyles e battles que nós do Canal 115 e rappers da zona costumávamos fazer. Vi aquele mano junto de outros sócios, posicionado exactamente no local onde os pequenos dealers interagem com os toxicodependentes.
Fui ter com ele, e ficámos a falar durante uma hora. Ele disse-me que largou a escola, o pai foi para Cabo-Verde (foi arranjar trabalho e cuidar de outra família que tinha lá) e que ele como filho mais velho tinha que pôr dinheiro em casa. A mãe trabalha 14 horas e não chega a ganhar 100 contos. Ele tem dois irmãos mais novos que estão na escola primária.
Começou a fazer uns assaltos, agora está no tráfico. Perguntei-lhe quanto tempo esperava continuar assim. Ele disse-me que sabia que não ia durar muito, e que ia apostar tudo para poder ser rapper. Queria preparar-se para poder viver do Rap aqui em Portugal, julgando ele que eu e os rappers que vão lançando álbuns conseguimos viver daquilo que cuspimos.
Disse-me que para além de poder ser preso hoje ou amanhã, não gostava da lógica de “contrato laboral” que conhecia no tráfico de droga.
Era capaz de fazer 200 / 300 contos por dia, mas nunca ficava com mais de 20 contos. Tinha que entregar o resto ao “patrão”. Achava-se muito bem pago comparado com os salários praticados no mundo lícito, mas o que ganhava nunca lhe daria possibilidade de sair do bairro e investir noutro negócio qualquer, sabendo ele que tinha uma profissão de risco e muito pouco duradoura.
Ele é muito novo, mas assombrosamente lúcido. Alongámos a conversa, expliquei-lhe que só 2 ou 3 gajos é que vivem do rap em Portugal, e trocando ideias, observações e opiniões, concluímos que a Indústria da música onde o rap se inclui funciona com os mesmos princípios do tráfico de droga.
A música é cada vez mais um negócio; onde vale quase tudo; onde só as editoras (Big dealers) ganham dinheiro ; onde cada vez mais se tentam vender produtos sem qualidade (Coca misturada com farinha) que deseduca e destrói esta juventude consumidora de música (os drogados). Tentem fazer com que o Hip Hop tuga fique longe disto.
Valete

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