quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

A misteriosa gramática da Ciência

A Matemática das Coisas
Autor: Nuno Crato
Editora: Gradiva
N.º de páginas: 246
ISBN: 978-989-616-241-2
Ano de publicação: 2008

Distinguido pela Comissão Europeia, já em 2008, com um European Science Award, Nuno Crato é um divulgador científico exemplar, num país em que os docentes universitários raramente partilham com o comum dos mortais os seus saberes. Professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), além de presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Crato mantém há 12 anos uma actividade intensíssima de divulgação na imprensa, na rádio e na TV, a que tem acrescentado diversas reflexões sobre os problemas do sistema de ensino nacional.Didáctico sem deixar de ser lúdico, Crato volta a trocar por miúdos A Matemática das Coisas, num volume que recolhe 45 textos breves, quase todos publicados no semanário Expresso. O subtítulo da obra – “Do papel A4 aos atacadores de sapatos, do GPS aos engarrafamentos de trânsito” – dá desde logo o mote para uma abordagem que, não abdicando do rigor, se pretende ligeira. Ou seja, o objectivo do autor é não apenas revelar “a extraordinária eficácia da matemática para a descrição, compreensão e previsão dos fenómenos naturais” (característica que fez dela, ao longo dos séculos, a “misteriosa gramática da ciência moderna”), mas igualmente exemplificar como ela “atravessa o nosso dia-a-dia”.É de exemplos concretos, muitas vezes ilustrados por infografias (quase sempre mal paginadas, diga-se), que Crato parte. Dos algoritmos que permitem resolver problemas de partilha de um bolo entre amigos, ou aperfeiçoar sistemas de criptografia electrónica, ao funcionamento do GPS e dos faróis, passando pela importância dos interruptores ou pela diferença entre loxodromia e ortodromia, o espectro de temas tratados é vastíssimo. Tão vasto que inclui ainda a influência da matemática nas obras de Pablo Picasso, M. C. Escher e Jackson Pollock, o número de ouro, os sólidos platónicos ou a famosa máquina Enigma (usada pelos nazis para codificação dos seus segredos militares, durante a II Guerra Mundial; e que os ingleses conseguiram decifrar, ao reunir um dream team de sábios numa mansão em Bletchley Park, perto de Londres).Crato escreve com grande clareza, num estilo acessível ao mais leigo dos leigos, sendo capaz de resumir em poucas linhas os contributos dos grandes matemáticos do passado (Pedro Nunes, Euler, Gauss, von Neumann, etc.). Em certos casos, porém, esta capacidade de síntese é levada longe demais e os textos acabam por saber a pouco. É que num jornal, onde imperam as limitações de espaço, ainda se tolera ver o Rossio metido na Rua da Betesga. Num livro, não.

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