Será para sempre recordado como o sorriso do futebol Africano. Em plena agitação do futebol moderno, com “apenas” 38 anos, mostrou o seu génio e calor dançando para o público de todo o Mundo, contagiando tudo e todos para sempre, aquele que acertadamente é reconhecido como o maior futebolista africano da história - Roger Milla.
África. Se fecharmos os olhos e nos rendermos às palavras e adjectivos que caracterizam este Continente podemos ver a realidade como Europeus, que há séculos atrás com os seus soldados, burgueses e colonos, traziam incríveis relatos de um lugar mágico e envolto em mistérios. Em pleno século XXI, o seu significado ainda se mantém: habilidade, façanha, proeza… empreendimento muito difícil. Sinónimos que ainda hoje se reflectem num continente que recusa adoptar um estilo de vida que não é o seu, até que a magia do futebol veio para agitar e contagiar as várias nações num património sócio-cultural de grande fragilidade, influenciado pelo tribalismo e pela conturbada herança da opresso das ditaduras coloniais. O futebol africano nasce aqui, a sua história passada e futura só pode ser compreendida perante estas enigmáticas e fascinantes condicionantes de um continente muito próprio que com o passar do tempo resultou num blend de emoções e movimentos cuja “expressão corporal” mantém o estilo primitivo do futebol, que só o continente negro sabe interpretar. Foi assim que nas última décadas ocorreu a viragem no futebol africano da África do Norte, isto é, a região mais rica do continente fruto da maior resistência aos costumes colonialistas, com o Egipto e Marrocos a perderem para a zona Ocidental todo o monopólio de participações internacionais, com a libertação dos “leões indomáveis” dos Camarões para o Mundo do Futebol. Fruto da realidade inata dos seus instintos, a selecção dos Camarões mostrou a combinação do jogo criativo com forte vocação ofensiva sob um ângulo ainda que reduzido, da disciplina táctica e técnica na preparação dos jogos. É neste contexto que surge o nome mais emblemático do futebol deste país da África Ocidental, independente da colonização Francesa há mais de 35 anos mas ainda mergulhado numa grave crise económica e social.
Nascido a 20 de Maio de 1952 na cidade de Yaound, Albert Roger Miller iniciou-se no futebol com apenas 13 anos no Eclair da capital Douala, onde permaneceu até 1974, sem antes mudar para o rival Léopard de Douala, onde alcançaria a marca de 89 golos em 117 jogos. A sua veia goleadora não passou despercebida e abraçou com agrado a proposta vinda do clube da sua cidade natal, o Tonnerre Yaoundé onde permaneceria 3 épocas apontando 69 tentos em 87 partidas disputadas. Com 25 anos, chegava a hora do desafio chamado Europa e a sua estreia no Velho Continente seria nos franceses do Valenciennes, onde se deparou com a realidade do futebol táctico e direccionado para os resultados. Sempre no campeonato gaulês, onde ainda hoje é bastante idolatrado, seguiram-se as experiências no AS Mónaco, Bastia, Saint-Étienne e por fim Montpellier onde encerrou uma passagem cujo perfume de qualidade e talento ainda figura nos museus de cada clube.
O ano de 1990, acabaria por ser o grande ano daquele que o futebol tratou de baptizar como Roger Milla. Para trás tinha ficado uma fugaz experiência europeia, sempre com sotaque francês mas que traria já na recta final da sua carreira o merecido reconhecimento internacional. Com 38 anos, o primeiro grande momento de Milla viria depois de ter pendurado as chuteiras para os palcos internacionais, quando parecia destinado a não beijar a fama. Foi então que perto da Índia, nas longínquas Ilhas Reunião, enquanto actuava pelo modesto JS Saint-Pierroise, recebeu uma chamada do presidente dos Camarões, que lhe apelou para recuar na decisão e vestir a camisola dos “Leões Indomáveis” durante o Mundial de 1990 na Itália. Em boa hora o fez, pois seria considerado como o jogador suplente mais precioso de toda a História dos Mundiais, ao apontar 4 golos como substituto e ao “oferecer” outros dois nos estrondosos quartos-de-final com a Inglaterra. Sagraria-se a uns incríveis 38 anos, como o melhor marcador do Mundial 90 com 4 golos que valeram uma caminhada histórica dos Camarões num Mundial onde introduziu a cultura da dança no futebol, com as celebrações de cada um dos seus golos com a famosa dança Makosaa na bandeirola de canto - uma imagem que ainda hoje se pode encontrar em figuras animadas de Milla a dançar, que ainda prosperam nas casas dos fãs em todo o Mundo.
O segundo grande momento de posteridade de Roger Milla só podia ser aquele que se passou ao minuto 19 do prolongamento do Camarões x Colômbia. No confronto de dois titãs - Roger Milla e José René Higuita mediram forças no estádio San Paolo, no dia 26 de Junho. O excêntrico guarda-redes colombiano tenta fintar a veterania do camaronês que de forma magnífica, rouba-lhe a bola e encara a baliza deserta. Esta seria a caminhada mais fulgurante para a glória de Milla e abriu o sorriso mais cósmico de que o futebol tem memória. Um sorriso que ficaria para o futebol como o de Mona Lisa para as artes.Porém, Milla mesmo já reconhecido como o maior futebolista africano da história, foi ainda mais longe. Em 1994, nos EUA, aos 42 anos o “avô” camaronês arrancaria o seu terceiro maior momento da carreira, quando se tornou no mais velho jogador de futebol a marcar um golo pela sua selecção num Mundial - o de honra na goleada infligida pela Rússia por 6 a 1. Neste jogo, vale também salientar outro recorde que se estabeleceu: o russo Oleg Salenko marcou 5 vezes, tornando-se o maior artilheiro de Selecção num só jogo em Campeonatos do Mundo.
Actualmente, Milla é embaixador para causas humanitárias em África. A presença em 3 campeonatos do Mundo (82, 90 e 94) e os feitos alcançados valeram-lhe a honra de ser um dos nomes que constam nos 100 melhores de sempre da História Mundial, encabeçada pelo astro canarinho Pelé. O seu nome foi escolhido juntamente com o liberiano George Weah, para os dois melhores jogadores africanos do século. Um contributo inigualável para as páginas douradas do Futebol, Milla foi o grande impulso para a história de sucesso dos Camarões e do futebol Africano, nas maiores montras internacionais.
África. Se fecharmos os olhos e nos rendermos às palavras e adjectivos que caracterizam este Continente podemos ver a realidade como Europeus, que há séculos atrás com os seus soldados, burgueses e colonos, traziam incríveis relatos de um lugar mágico e envolto em mistérios. Em pleno século XXI, o seu significado ainda se mantém: habilidade, façanha, proeza… empreendimento muito difícil. Sinónimos que ainda hoje se reflectem num continente que recusa adoptar um estilo de vida que não é o seu, até que a magia do futebol veio para agitar e contagiar as várias nações num património sócio-cultural de grande fragilidade, influenciado pelo tribalismo e pela conturbada herança da opresso das ditaduras coloniais. O futebol africano nasce aqui, a sua história passada e futura só pode ser compreendida perante estas enigmáticas e fascinantes condicionantes de um continente muito próprio que com o passar do tempo resultou num blend de emoções e movimentos cuja “expressão corporal” mantém o estilo primitivo do futebol, que só o continente negro sabe interpretar. Foi assim que nas última décadas ocorreu a viragem no futebol africano da África do Norte, isto é, a região mais rica do continente fruto da maior resistência aos costumes colonialistas, com o Egipto e Marrocos a perderem para a zona Ocidental todo o monopólio de participações internacionais, com a libertação dos “leões indomáveis” dos Camarões para o Mundo do Futebol. Fruto da realidade inata dos seus instintos, a selecção dos Camarões mostrou a combinação do jogo criativo com forte vocação ofensiva sob um ângulo ainda que reduzido, da disciplina táctica e técnica na preparação dos jogos. É neste contexto que surge o nome mais emblemático do futebol deste país da África Ocidental, independente da colonização Francesa há mais de 35 anos mas ainda mergulhado numa grave crise económica e social.
Nascido a 20 de Maio de 1952 na cidade de Yaound, Albert Roger Miller iniciou-se no futebol com apenas 13 anos no Eclair da capital Douala, onde permaneceu até 1974, sem antes mudar para o rival Léopard de Douala, onde alcançaria a marca de 89 golos em 117 jogos. A sua veia goleadora não passou despercebida e abraçou com agrado a proposta vinda do clube da sua cidade natal, o Tonnerre Yaoundé onde permaneceria 3 épocas apontando 69 tentos em 87 partidas disputadas. Com 25 anos, chegava a hora do desafio chamado Europa e a sua estreia no Velho Continente seria nos franceses do Valenciennes, onde se deparou com a realidade do futebol táctico e direccionado para os resultados. Sempre no campeonato gaulês, onde ainda hoje é bastante idolatrado, seguiram-se as experiências no AS Mónaco, Bastia, Saint-Étienne e por fim Montpellier onde encerrou uma passagem cujo perfume de qualidade e talento ainda figura nos museus de cada clube.
O ano de 1990, acabaria por ser o grande ano daquele que o futebol tratou de baptizar como Roger Milla. Para trás tinha ficado uma fugaz experiência europeia, sempre com sotaque francês mas que traria já na recta final da sua carreira o merecido reconhecimento internacional. Com 38 anos, o primeiro grande momento de Milla viria depois de ter pendurado as chuteiras para os palcos internacionais, quando parecia destinado a não beijar a fama. Foi então que perto da Índia, nas longínquas Ilhas Reunião, enquanto actuava pelo modesto JS Saint-Pierroise, recebeu uma chamada do presidente dos Camarões, que lhe apelou para recuar na decisão e vestir a camisola dos “Leões Indomáveis” durante o Mundial de 1990 na Itália. Em boa hora o fez, pois seria considerado como o jogador suplente mais precioso de toda a História dos Mundiais, ao apontar 4 golos como substituto e ao “oferecer” outros dois nos estrondosos quartos-de-final com a Inglaterra. Sagraria-se a uns incríveis 38 anos, como o melhor marcador do Mundial 90 com 4 golos que valeram uma caminhada histórica dos Camarões num Mundial onde introduziu a cultura da dança no futebol, com as celebrações de cada um dos seus golos com a famosa dança Makosaa na bandeirola de canto - uma imagem que ainda hoje se pode encontrar em figuras animadas de Milla a dançar, que ainda prosperam nas casas dos fãs em todo o Mundo.
O segundo grande momento de posteridade de Roger Milla só podia ser aquele que se passou ao minuto 19 do prolongamento do Camarões x Colômbia. No confronto de dois titãs - Roger Milla e José René Higuita mediram forças no estádio San Paolo, no dia 26 de Junho. O excêntrico guarda-redes colombiano tenta fintar a veterania do camaronês que de forma magnífica, rouba-lhe a bola e encara a baliza deserta. Esta seria a caminhada mais fulgurante para a glória de Milla e abriu o sorriso mais cósmico de que o futebol tem memória. Um sorriso que ficaria para o futebol como o de Mona Lisa para as artes.Porém, Milla mesmo já reconhecido como o maior futebolista africano da história, foi ainda mais longe. Em 1994, nos EUA, aos 42 anos o “avô” camaronês arrancaria o seu terceiro maior momento da carreira, quando se tornou no mais velho jogador de futebol a marcar um golo pela sua selecção num Mundial - o de honra na goleada infligida pela Rússia por 6 a 1. Neste jogo, vale também salientar outro recorde que se estabeleceu: o russo Oleg Salenko marcou 5 vezes, tornando-se o maior artilheiro de Selecção num só jogo em Campeonatos do Mundo.
Actualmente, Milla é embaixador para causas humanitárias em África. A presença em 3 campeonatos do Mundo (82, 90 e 94) e os feitos alcançados valeram-lhe a honra de ser um dos nomes que constam nos 100 melhores de sempre da História Mundial, encabeçada pelo astro canarinho Pelé. O seu nome foi escolhido juntamente com o liberiano George Weah, para os dois melhores jogadores africanos do século. Um contributo inigualável para as páginas douradas do Futebol, Milla foi o grande impulso para a história de sucesso dos Camarões e do futebol Africano, nas maiores montras internacionais.
by Gustavo Devesas
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